Rio – Duas pessoas morreram em um incêndio que atingiu um casarão na Rua Taylor, 11, na Lapa, Centro do Rio, na madrugada deste domingo (1º). Segundo testemunhas, as chamas começaram após uma tentativa de feminicídio, durante discussão dentro de um dos quartos do imóvel, em que um homem teria tentado atear fogo em sua mulher. De acordo com os relatos, o suspeito fugiu do local, que voltou a ter focos de incêndio no fim da manhã.
Outros seis moradores ficaram feridos. Um recusou o socorro da ambulância e cinco, incluindo a vítima da briga, foram levados ao Hospital Municipal Souza Aguiar, no Centro. Dois deles, Vanilda Neves, 82, e um menino de 4 anos, já receberam alta, enquanto os outros três, Etti Evenhen, 75; Roberto Dias, 66; e Fernanda Cunha, 47, estão com estado de saúde estável, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.
A Defesa Civil Municipal interditou o imóvel por causa do risco do desabamento. Com isso, diversas famílias aguardam a sua liberação para tentar recuperar objetos que não tenham sido incendiados. A rua onde fica o casarão precisou ser interditada, conforme o Centro de Operações Rio.
Os bombeiros foram chamado para conter as chamas por volta das 3h50 e iniciaram o rescaldo às 7h40. A corporação atuou no casarão, que tem três andares, até 12h.
A Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS) informou que equipes técnicas estiveram no local do incêndio para prestar apoio imediato às famílias afetadas. Ao todo, 22 famílias encontram-se desalojadas e nove desabrigadas. Dentre elas, duas famílias e quatro pessoas sozinhas aceitaram a oferta de acolhimento em equipamentos da SMAS, onde receberão e integral.
A pasta destacou que, durante o atendimento emergencial, foram realizados 28 encaminhamentos para a retirada de documentos perdidos. Todas as famílias foram direcionadas ao Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) responsável pela região, onde continuarão recebendo acompanhamento e apoio psicossocial, conforme avaliação das necessidades individuais e familiares.
‘Prédio todo irregular’
Ao DIA, o camelô Flávio Leandro, de 25 anos, relembrou os momentos de terror e pediu ajuda ao poder público. Ele foi acordado com a fumaça e o barulho da briga. “Por volta das 4h, minha esposa me acordou, estava uma gritaria. Moro lá no último andar. Quando coloquei a cara para fora, já tava tomado pela fumaça. Só deu tempo de agarrar meu filho, pular do terceiro andar para o segundo. Pulei lá de cima aqui para a rua. O que o pessoal fala é que tava tendo uma briga, e o rapaz tacou fogo. Só que a pessoa tacou fogo e não lembrou que tinha um monte de gente, criança e tudo”, afirmou.
Flávio disse que não sabe se o seu filho de 4 anos, que ficou ferido no incêndio e já recebeu alta, conseguirá comer hoje e espera a liberação do edifício para que ele possa ver o que sobrou nos escombros. Ele ainda denunciou que o imóvel tinha diversas irregularidades. “Não tinha extintor de incêndio, as fiações estão todas à mostra. Não tinha regularidade de nada. Ainda mais por ter botijão de gás dentro do prédio, tinha que ter extintor de incêndio. O prédio está todo irregular”, disse. O proprietário do casarão, que alugava os quartos, não foi localizado.
A vendedora ambulante Adriana Calux, de 44 anos, também cobrou ações das autoridades. “Eu acordei umas 3h achando que era briga, uma gritaria. Quando eu abri a porta, a fumaça tinha tomado conta, aí foi aquele desespero. Um jogando o outro lá de cima, porque não tinha escada, nada para a gente descer. Quando descemos, esse caos. Todo mundo nessa situação, sem café da manhã, sem uma água para tomar, sem apoio de ninguém. Não tem mais ambulância, não tem assistência social, nada”, disse.
Já um vizinho do casal que brigou, identificado como Carlos Eduardo, conseguiu recuperar alguns pertences antes de sair do casarão. “Eu acordei com o barulho achando que era briga. Até então, tudo bem. Só se for necessário para intervir. Mas a partir do momento que começou a gritar ‘fogo, socorro’, quando eu abri a porta, o fogo já estava alastrando no meio do corredor. Eu saí correndo, mas retornei para salvar um documento, e felizmente recuperei, mas todo mundo está sendo vítima da mesma situação.
Foi uma tentativa de homicídio em uma pessoa que acarretou tudo isso. Independente de tudo que perdemos, aluguel ou pertences, quem perdeu a vida não tem preço. Mas enfim, que seja feita a vontade divina.”
Em nota, a Polícia Civil afirmou que a Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) foi acionada e investiga a morte de duas pessoas, ainda não identificadas. “A perícia foi feita no local e outras diligências estão em andamento para esclarecer as circunstâncias do incêndio e a autoria do crime.”
* Colaborou Érica Martin
Por: O DIA
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